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Sobre o Respeito ao corpo

Conexão, toque e cuidado

Ade Monteiro
4 min readDec 18, 2019

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Qualquer ser humano merece respeito.
Qualquer corpo merece ser respeitado.

O corpo é nosso lar, e devemos cuidar da casa onde moramos. Infelizmente, não aprendemos a cuidar do nosso corpo — a não ser de nossa estética. O cuidado com o corpo está limitado à nossa aparência, e o potencial do corpo é imensamente maior que isso.

A preocupação com a aparência pode se tornar uma obsessão na busca de um padrão ideal que não respeita nossas singularidades. Esse “cuidado” se transforma então em uma agressão ao corpo.

Não aprendemos a compreender nossos limites físicos e psíquicos, por isso temos dificuldade em expressar esses limites aos outros.

Também temos dificuldade em nos expressar de forma geral. Em expressar nossas emoções, desejos e necessidades. Nossa tristeza e nossa felicidade. Nossas angústias e frustrações. Todos esses sentimentos vão “passando batido”: sendo ignorados, reprimidos ou mal expressados.

Ficamos frustrados e tristes com a atitude do outro e expressamos raiva.
O outro nos fere ainda mais porque recebe nossa carência como ofensa.
É uma torre de babel dos sentimentos.
E o amor se perde nisso tudo.

Historicamente, sabemos como o corpo da mulher tem sido desrespeitado. Ele tem sido objetificado, invadido, agredido, violentado, desprezado, utilizado para fins do prazer do outro, oprimido, discriminado, explorado…. São infinitas as formas de maus tratos ao corpo da mulher.

Nossos corpos têm uma história, não somente dessa vida, pois carregamos genes ancestrais. A história do nosso corpo é única, e devemos nos orgulhar dela. Vivemos um momento de transição onde as mulheres estão tomando ciência da beleza e sacralidade de seus corpos. Isso leva à consciência de seu poder.

Os homens também estão percebendo isso, e estão aprendendo a ver a beleza de cada mulher, a respeitá-la e admirá-la como ela é. Precisamos auxiliar os homens nesse processo, e ensiná-los a olhar e tocar nossos corpos, de acordo com o nosso desejo e nosso consentimento.

Nós, homens e mulheres, precisamos reconhecer nossos limites corporais e utilizar estratégias para expressar esses limites, assim como nossos desejos.

Honestamente.
Gentilmente.
Com profundo cuidado e respeito ao corpo do outro.

Então eu proponho que, a partir de uma elevada consciência corporal, possamos “permitir” o toque a conexão com o outro, se assim desejarmos.

Como acontece essa permissão?

Através da comunicação. O olhar e expressões não verbais dizem muito, mas ainda não são suficientes — é preciso tempo para CONSTRUIR essa comunicação não verbal através da intimidade e confiança.

Enquanto ainda não há esse nível elevado de comunicação não verbal, precisamos questionar com carinho e cuidado:

- Posso te tocar? Beijar? Abraçar?
- Você quer me tocar/beijar/abraçar?
- Seu cheiro é delicioso…
- Sua pele é macia….
- Eu sinto uma energia muita gostosa quando estou com você!
- Me sinto feliz perto de você!
- Você é divertido/a!
- Gosto do seu beijo…
- É muito bom te beijar/ te abraçar/ sentir seu corpo próximo ao meu….
- Você quer fazer amor?

Perguntas mais específicas para casais que já estão há tempos juntes:

- Eu gostaria de fazer amor com você hoje, você quer?
- Sinto uma forte energia sexual esses dias, você também? (os casais costumam estar alinhados nos períodos férteis ou de mudanças hormonais)
- Eu olho pra você e te desejo muito!
- Você está linda/o! Sinto vontade de fazer amor com você agora!

Parecem perguntas um pouco óbvias, mas te questiono: você costuma fazê-las? Ou costuma ser questionado/a?

“Ah mas eu sinto….não preciso perguntar!”.

TEM CERTEZA?
A comunicação está realmente CLARA E HONESTA entre vocês?

Eu sugiro fazer o teste. Mesmo que você saiba a resposta, é maravilhoso ouvir: “Sim me toque por favor, te quero muito!” ou “Sim me beije a noite toda, sou todo seu” ou “também sinto uma forte energia, quero sentir o seu corpo”.

E por outro lado, você não deveria se sentir ofendide se a outra pessoa disser um não. Ou se ela demonstrar não estar à vontade, ou não retribuir aos seus sentimentos. Você deve respeitar e honrar essa honestidade, agradecer e recuar. Ou continuar até o ponto que a outra pessoa permitir. É importante compreender as regras do consentimento.

Porque o toque e a conexão, a energia do amor, não farão sentido se não forem recíprocos. Essa energia de mão única vai se descarregar e se dissipar no nada… ela não vai se fortalecer.

Tente desfocar dos rótulos e contratos….a conexão, o olhar, o sorriso, o toque, a troca de energia amorosa e sempre consentida… esse deve ser o fim, o objetivo das nossas interações afetivas.

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Ade Monteiro

Psicóloga, Doula e Terapeuta de Casais. Mestre em Estudos sobre a Igualdade. Mãe e feminista.