Fonte: Pintrest

Sobre a Rejeição

Escolha suas batalhas

Ade Monteiro
4 min readDec 20, 2019

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Quando falamos de consentimento, é impossível não falar de rejeição.

Porque quando você pede permissão para tocar u outre, ou para entrar em sua intimidade de alguma forma, você corre o risco de ouvir um não e se sentir rejeitade.

Nós temos evitado lidar com a rejeição, porque não pedimos consentimento, não aprendemos a pedir permissão, a expressar que queremos estar mais perto, que queremos tocar, brincar, conversar, trocar uma certa energia — seja ela uma energia de empatia, compaixão, amizade, uma energia sensual, afetiva ou mesmo sexual.

Então se não conseguimos pedir permissão e expressar claramente e honestamente nossos desejos e necessidades ao outro, temos as opções de: reprimir o que sentimos, ou de invadir o espaço du outre (e ser agressive ou até violente), ou de “ir chegando de mansinho tentando ler nas entrelinhas”. Essa última opção é o que grande parte das pessoas com um mínimo de educação emocional acaba fazendo: pra dizer o que queremos, a maioria de nós faz um “jogo”, que se mistura entre sugestões e comunicação não verbal.

Mas isso não é bom o suficiente. Essa forma de comunicação não é clara e honesta e acaba não sendo saudável para as nossas relações.

Nós precisamos “treinar” ouvir o não. Precisamos praticar e aprender a lidar com o sentimento de rejeição. Ele nos abala muito, ele cutuca nossas feridas, ele esfrega na nossa cara nossas inseguranças, nossos medos, nossos traumas e complexos.

Mas isso tudo não nos define, não somos somente nossas inseguranças e complexos. E o mundo não é feito só de NÃOs. Muitas pessoas nos amam e nos dizem SIM.

Com certeza há muitas pessoas no mundo que te adoram, que se divertem com você, que te desejam, que amam conversar com você, que gostam de brincar com você, pessoas que combinam com sua energia.

Lidar com a rejeição de forma negativa é uma batalha perdida. Escolha suas batalhas.

Assim como na história sobre os cachorros que o índio alimenta, você escolhe se quer perder seu tempo com as pessoas que te dizem NÃO ou com aquelas que te dizem SIM e abrem seus braços pra te acolher.

Há algumas semanas, fizemos uma atividade sobre consentimento com um grupo. Organizamos algumas dinâmicas e uma delas era sobre ouvir os vários NÃOs que ouvimos pela vida: “não te quero, não te amo, não me sinto atraída por você, não me sinto segura aqui com você, não estou à vontade, o sentimento não é recíproco”, etc.

Anteriormente, eu fiquei me questionando: qual o sentido disso para o consentimento?

Mas preparei a dinâmica seguindo meus instintos e o resultado foi incrível: muitas pessoas comovidas expressando o quanto ouvir aquelas frases negativas, mexia com seus sentimentos, com seus traumas e inseguranças, mesmo sabendo que eram frases prontas e estavam em um ambiente seguro. Uma pessoa disse que nem queria ter ido, que achou que era mais um encontro com aquelas dinâmicas chatas (rs), e quando vivenciou as dinâmicas ficou fascinada com o poder daquilo tudo.

A questão principal era: estou sendo rejeitade, que sentimentos isso gera em mim? Consigo lidar com eles? Consigo superar a dor? Consigo me auto-conhecer, aprender com essa experiência e ressignificar essa dor?

Eu mesma vivenciei um não difícil esses dias. Uma cliente me disse: “Muito obrigada, mas não vou querer seus serviços, encontrei uma pessoa melhor”. É claro que a pessoa não disse assim, mas foi assim que eu ouvi. Foi doloroso, mas após um tempo acalmei meu coração e reli:

“Eu agradeço muito, mas fizemos mais algumas entrevistas e decidimos por outra pessoa. Muito obrigada pelo atendimento e por seu trabalho”.

Tantas questões nos acometem com a rejeição: “não sou boa o suficiente, há pessoas muito melhores do que eu, eu faço tudo errado, ninguém me quer, as coisas não dão certo pra mim, eu fiz um péssimo trabalho, eu não soube conversar, nem me expressar, quantas coisas estúpidas eu falei… etc etc”.

Mas na realidade, a rejeição pouco tem a ver com você. É uma escolha pessoal du outre, elu tem esse direito sobre o corpo e as relações delu. Elu faz essa escolha baseada em suas referências e preferências. E não há muito que você possa fazer à respeito. A não ser aprender com as experiências a ser sempre uma pessoa melhor, isso com certeza irá te ajudar a atrair pessoas que estão na sua sintonia.

Procure não se torturar nas inúmeras razões para o não du outre… suas hipóteses podem não ter absolutamente nenhuma relação com o que elu sente. E se tiverem, você continua sem muita escolha…

Para aqueles que lhe dizem não, faça um “namastê” com gratidão.

Gratidão pelo tempo que passaram juntes e por tudo que aprendeu, ou se nem isso aconteceu, seja grate por aprender com u outre a se respeitar. Agradeça au outre por não desrespeitar seu próprio corpo para satisfazer um desejo seu, isso seria egoísta, não seria recíproco, não teria profundidade, não seria amor.

Segue em frente e ABRA ESPAÇO.

Onde não puderes amar, não te demores... (Frida Kahlo)

Nickolas Muray Frida Kahlo ca 1940

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Ade Monteiro

Psicóloga, Doula e Terapeuta de Casais. Mestre em Estudos sobre a Igualdade. Mãe e feminista.