Photo by Bram. on Unsplash

Se existe Medo é verdadeiro?

Tradução do texto Why You Cannot Truly Love The Person You Are Afraid To Lose e introdução por Ade Monteiro

Ade Monteiro
5 min readJan 27, 2020

--

Pesquisando sobre o tema do nosso encontro que aconteceu semana passada me deparei com esse texto.

O medo da perda. É um medo quase universal. Você teme não ter mais o que tem, e se é tão bom o que tem, por que arriscar perder? O que você teme? Ser trocade, ser abandonade, ser rejeitade, ficar só. E qual o problema nisso?

Todas essas situações podem acontecer, sempre. Nessa vida, não há garantias, nunca haverão garantias. Esther Perel sempre menciona uma piada em suas falas: “Quer fazer Deus gargalhar? Conte-lhe seus planos”. Independente de sua crença, acho que a piadinha vale pra todes nós. O destino nos passa algumas rasteiras, mas ele também nos entrega alguns presentes. É um ciclo.

Seja qual for o modelo de relacionamento que temos, monogâmico, não monogâmico, fechado ou aberto, nós corremos o risco de perder a pessoa que amamos. É possível que se essa pessoa é livre para se relacionar com outras as chances disso acontecer aumentem. Muitas pessoas não querem aumentar as chances. Porém o risco ainda existe. Com mais ou menos riscos, a questão principal é: como enfrentamos o medo de perder as pessoas que amamos?

Esse texto toca um ponto importante: o amor próprio, a vulnerabilidade. O paradoxo entre ser eu mesma e ter medo de perder. De acordo com Jamie Varon, autora do texto, não é possível conciliar. Ou você se mostra, ou você entra em disfarces, porque o medo da perda te impedirá de mostrar quem você verdadeiramente é.

Porque você não pode amar verdadeiramente a pessoa que tem medo de perder

por Jamie Varon

O problema dos relacionamentos é que você não pode contar a verdade ao outro até que não tenha mais medo de perdê-lo.

Você precisa deixar de lado a necessidade desesperada de presença do outro, aquele medo de parar o coração que surge quando você pensa em sua vida sem eles. Isso tem que acabar. Você tem que se familiarizar com a ideia de que eles poderiam não existir em sua vida e esse fato pode entristecê-la, mas a ideia de existir sem eles não pode fazer com que você sinta que vai desmoronar.

Porque, se há algo que a verdadeira intimidade exige, é uma honestidade vulnerável, crua e desconfortável. Pensamos entender a honestidade. Nós realmente acreditamos nisso. Dizemos: “você me machucou quando fez isso na semana passada”, e assim estamos sendo a versão honesta de nós mesmas. Mas escondemos muito da pessoa com quem estamos. Escondemos esses pequenos desejos que achamos que eles não podem realizar. Escondemos as coisas que pensamos que os farão fugir de nós. Não mostramos os nossos pontos mais vulneráveis ​​porque, simplesmente, temos medo de que na nossa forma mais crua seremos abandonados.

E, então, fazemos essas pequenas concessões. Dizemos que não é importante que ele conheça os detalhes do nosso trabalho. Dizemos que não há problema em não satisfazer um desejo sexual. Dizemos a nós mesmas que tudo está bem — para coisas grandes ou pequenas — porque, em nosso desejo de estar com o outro, às vezes podemos esquecer nosso desejo de permanecer fiéis a nós mesmas.

Escondemos nossas obscuridades, nossos medos e nosso desejo, porque é mais fácil assim. É mais fácil do que o risco de perdê-lo. Mas, o amor exige nossa vulnerabilidade. De fato, parece que é a única coisa que o amor realmente exige de nós. Exige que fiquemos diante da pessoa que amamos e digamos:

“Isso é tudo de mim. Não sei se você continuará me amando depois que eu te trouxer para os cantos escuros do meu coração, mas preciso que você me conheça, realmente me conheça.”

Dizemos que queremos que o outro nos conheça verdadeiramente, mas não nos deixamos “ser vistas”. Não podemos conciliar o medo de perder alguém com o desejo de mostrar nosso eu verdadeiro. Porque, não importa quem você é, sua verdade será filtrada por esse medo. Suas palavras serão revestidas com esse medo. Tudo o que você diz, toda verdade que pensa vir de você, primeiro será impulsionada por esse medo. Nunca é uma verdade pura quando é tingida, revestida e encoberta pelo medo do abandono ou da rejeição. Não é até que enfrentemos diretamente esse túnel do medo e saiamos do outro lado capazes de dizer nossa verdade, descoberta e inteira, mostrando o ser humano que nós tão desesperadamente ansiamos por mostrar.

Entrar nesse medo parece a visão da beira de um penhasco, pelo menos na minha mente. Penso nisso toda vez que entro na minha vulnerabilidade e a compartilho com meu parceiro, fico esperando que o próximo passo desse penhasco apareça, mas nunca tenho certeza se ele estará lá. Eu nunca tenho certeza se quem eu sou verdadeiramente é a pessoa que ele vai querer ao lado dele à noite. Eu só posso continuar revelando mais de quem eu sou, conhecendo mais de mim e compartilhando isso com ele.

No momento em que começo a me preocupar que ele pode me deixar ou a relação que temos pode acabar, ou que me convenço de que preciso dele para viver/ficar bem, é quando bloqueio meu coração e começo a contar essas meias-verdades à mim mesma. É o momento em que começamos a nos perder um do outro, quando a distância entre nós vai aumentando cada vez mais.

Não é um conceito fácil de compreender de forma alguma. Mas posso dizer que, quando sou capaz de me sentir assim, quando sou capaz de amar sem me apegar demais à necessidade desse amor, sinto-me mais íntima e mais próxima do meu parceiro. Estou mais disposta a compartilhar quem eu sou e o que desejo, porque, no final das contas, não estou presa nessa ideia de que não posso — por mim mesma e pelo meu bem-estar — viver sem essa pessoa.

A necessidade de me desapegar do relacionamento como algo que dependa a minha sobrevivência é realmente uma maneira de experimentar uma conexão mais profunda, de intimidade e de amor. Porque eu posso amar pelo meu desejo de amar, não pela minha necessidade de amar, nem pela necessidade da presença do outro, nem pelo coração agarrado ao coração do outro devido ao medo. É um amor mais puro e significativo. E, afinal de contas, não é isso o que todos desejamos? Não é essa a questão principal de toda essa busca?

--

--

Ade Monteiro

Psicóloga, Doula e Terapeuta de Casais. Mestre em Estudos sobre a Igualdade. Mãe e feminista.