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E o Romance, acabou?

Ade Monteiro

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Após um fim de semana intenso de muitas conversas pesadas e decisões que pareciam precisar ser tomadas, a gente se chamegou de manhã… Que delícia trocar amor e carinho. ❤

Ao entrar no carro voltando de uma viagem, meu parceiro colocou uma música muito romântica e disse que acordou com aquela música na cabeça, e queria colocar pra mim (Truly Madly Deeply — Savage Garden).

Truly Madly Deeply — Savage Garden

Ele receoso me perguntou: você gosta?

Eu disse: é claro! Lhe dei um beijo, e a gente foi cantando junto…

Muitas desconstruções estão acontecendo internamente em cada um de nós. Elas geram uma mudança de comportamento. De repente estamos questionando os “scripts” e nos recusando a agir como antes, a preencher as expectativas que muitas vezes não correspondem ao que desejamos no nosso íntimo.

Essas mudanças geram reações emocionais nas pessoas à nossa volta, principalmente em nossus parceires. Muitas vezes elus se defendem, numa tentativa de se proteger do incômodo ou da dor que podem nos causar e que consequentemente refletirá nelus mesmes. Precisamos de muita maturidade e gentileza pra atravessarmos essas fases sem nos machucar demais.

Então meu parceiro agora tem medo de ser romântico e me questiona (com um toque de ressentimento):

Ser romântico é machista?

Eu não tenho absolutamente nenhum problema com o romance. Eu adoro romance. Eu amo flores e chocolates, poesias, recadinho surpresa, cartas, músicas melosas e filmes românticos…. Por que precisamos nos privar do romance a fim de desconstruir o amor idealizado?

Eu acho que o romance, os gestos de amor e gentileza, eles não são o problema. O problema é toda a idealização em volta do romance. O problema são todas as expectativas criadas, que acabam gerando cobranças infinitas.

Ou seja, em nossa cultura já estamos “vacinados” contra o romance, porque a gente já saca que os presentes e declarações são um pacote onde no fundinho você encontra as demandas que serão feitas depois.

O romance na nossa cultura é uma dívida

Mas pra mim ele é uma energia. Que você oferece, porque se sente nutrido e quer compartilhar não só com seus afetos, mas com o mundo… Você se sente amada, você começa a exalar amor pelos seus poros. Você fica mais calma, amorosa e compreensiva. O romance deveria ser um presente, sem expectativa de retribuição.

O romance é um agradecimento, ele já é uma “devolutiva”. Não há mais nada a ser cobrado de quem recebe. O romance é um ato de gentileza que uma pessoa faz em agradecimento a todos os sentimentos maravilhosos que a outra lhe despertou.

Hoje de manhã meu parceiro agradeceu nosso chamego com essa música maravilhosa. Meus olhos brilharam quando começou a tocar. Eu o agradeci com um sorriso afetuoso e os olhos dele brilharam em retorno, a gente se nutriu assim.

E nosso dia será mais leve, mais amoroso, mais divertido, a gente leva essa energia pra nossa vida, pros nossos filhos e para as pessoas com as quais nos relacionamos. Essa energia não é escassa, não é relativa, ela se multiplica, ela é abundante… O romance não é dívida, ele é gratidão!

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Ade Monteiro

Psicóloga, Doula e Terapeuta de Casais. Mestre em Estudos sobre a Igualdade. Mãe e feminista.